quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Adoção - um PEQUENO artigo.....

Coisa rara é me ver lendo um jornal... geralmente passo rapidamente por reportagens online, porém, no fim do ano, um jornal apareceu na minha frente e eu resolvi ler... não era um jornal de domingo... era um de quinta, daqueles que ninguém nunca compra, ninguém nunca lê... portanto resolvi dar uma chance prá ele.

De cara, na capa do caderno "Vida e Cidadania" vi uma matéria MUITO interessante, sobre adoção "especial".

Com a ajuda de uma amiga (minha internet não é tão boa assim) procurei e achei o artigo online e vou passar na íntegra para cá, afinal de contas, quanto mais informação sobre isso, melhor.

Alguns dados:

Filho “ideal”

Confira os resultados de um estudo sobre adoção realizado recentemente em São Paulo:

Só saudáveis...

> Metade dos candidatos não aceita adotar crianças com problemas de saúde leves e considerados tratáveis.

...e sozinhos

> E 68% não querem grupos de irmãos.

Esperança

> Por outro lado, o levantamento mostrou diminuição do preconceito, nos últimos três anos, em relação a quesitos como idade, cor da pele, problemas de saúde e adoção de grupos de irmãos.



------------------- NA ÍNTEGRA ------------------

Reportagem de Katia Brembatti, publicada na Gazeta do Povo, dia 29 de Dezembro de 2009

Filhos do Coração
O DESAFIO DA ADOÇÃO "ESPECIAL"

Crianças com necessidades especiais enfrentam ainda mais problemas para conseguir uma nova família

Ponta Grossa - Um casal de gêmeos de 1 ano de idade – ela com síndrome de Down –, vítima de abandono e maus-tratos, espera por um desfecho feliz em Ponta Grossa. Há dois caminhos para que os bebês encontrem carinho e amor: ou a mãe, com depressão profunda e problemas renais, precisará de ajuda para cuidar dos filhos ou uma família terá de aceitar o desafio de adotar os irmãos.

Como os nomes verdadeiros das crianças não podem ser divulgados, elas serão chamadas aqui de Clara e Francisco – em uma alusão à novela Páginas da Vida, transmitida pela RPCTV há dois anos, na qual um casal de gêmeos foi separado no nascimento e a menina era portadora de síndrome de Down.

Na vida real, o processo de destituição do poder familiar ainda está em andamento no Fórum de Ponta Grossa. Mas a mãe das crianças não tem mais o direito de vê-las. Ela não fez acompanhamento pré-natal e teve os filhos dentro de uma ambulância. Pessoas que tiveram contato com a família contam que ela não amamentava a menina.

Clara foi enfraquecendo e foi levada ao hospital pela primeira vez com menos de um mês de idade. Depois de restabelecida, voltou para casa. Mas apenas por algum tempo. Novamente fraca, foi internada de novo. Pesava menos de dois quilos. A mãe da menina não ia visitá-la e a Justiça decidiu que ela não poderia mais se aproximar da criança. Tempo depois, por considerar que não tinha condições de cuidar dos filhos, os outros dois – Francisco e mais uma irmãzinha, de 5 anos – foram levados para um abrigo. Clara ficou três meses internada e depois também foi encaminhada para uma casa de acolhida especializada em crianças com necessidades especiais.

Caso a Justiça decida que os três irmãos não podem ficar com a mãe, o trabalho da Vara de Infância e Juventude de Ponta Grossa será o de sensibilizar uma família a adotar de uma só vez três crianças, sendo uma com síndrome de Down. “As adoções de crianças com necessidades especiais são as mais difíceis”, reconhece a juíza Noeli Reback. Mas ela reforça que qualquer mulher que engravide está sujeita a ter filhos com problemas de saúde. “É incrível o que ter uma família pode representar até para a saúde de uma criança. Conheci casos de crianças muito debilitadas, que só se desenvolveram depois que foram adotadas”, relata. Recentemente ocorreram adoções que a juíza considera vitórias, como de filhos de soropositivos, de uma criança cega e de outra com deficiência mental. E outro final feliz está a caminho: uma menina com atraso de desenvolvimento tem uma família em espera, que quer adotá-la. Assim que for concluído o processo de destituição de poder familiar a adoção poderá ser encaminhada.

Vínculo familiar

O desfecho da história de Clara e Francisco deve demorar um pouco mais. A combinação dos problemas de saúde com o fato de serem três crianças e todos com mais de um ano de idade torna o caso mais complexo. A lei de adoções não exige que irmãos sejam adotados pela mesma família, mas uma espécie de código implícito leva os juízes a não separar as crianças. “É o único vínculo familiar que resta. Não pode ser desfeito. Ainda mais quando são gêmeos”, explica a juíza. Há casos bem difíceis, como um grupo de quatro irmãos. Mesmo no cadastro internacional de adoções não há procura. Em casos como esse, a Justiça aceita separá-los em dois pares, desde que as famílias adotivas se comprometam a manter o vínculo, com visitas constantes.

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AMOR DE FAMÍLIA ALIMENTA E FAZ CRESCER


Há um ano e meio na fila para adotar um filho, Ana Maria esperava ansiosamente que o telefone tocasse. E num dia de junho de 2003, quando isso aconteceu, a surpresa veio acompanhada de um desafio. Recebeu a proposta para adotar gêmeos, sendo um deles com problemas de saúde. Como havia participado de reuniões do grupo de adoções necessárias e não havia feito exigências quanto às características da criança (como gênero e idade), ela já estava com o espírito parcialmente preparado. Par­­cial­­mente porque, no fundo, nunca se está totalmente pronto, comenta ela.

Para o casal Ana Maria e Inácio Slompo, os filhos nasceram já com 1 ano e 4 meses. Foi quando eles conheceram os gêmeos não idênticos Fábio e Fabiano* e no mesmo dia levaram os meninos para casa. Fabiano estava com uma roupinha cor-de-rosa – a única disponível no hospital onde estava havia meses internado. A má-formação em uma parte do cérebro foi responsável por um atraso no crescimento. O menino simplesmente não se desenvolvia. Com mais de 1 ano de idade ainda tinha o peso de um recém-nascido. Muitas pessoas não tinham esperança de que Fabiano sobrevivesse. “Mesmo que fosse para ele viver só um pouco com a gente, ainda assim a gente queria adotar ele. E o nosso sentimento é de que ele resistiria. Ele sempre foi um guerreiro”, conta.

Ana Maria teve ainda mais vontade de adotar os meninos ao saber que foram o quarto casal a ser chamado para ficar com as crianças. “As pessoas têm uma ideia equivocada de que podem simplesmente escolher os filhos, só porque são adotados”, diz. Ela pensou que simplesmente se tratava de uma criança que precisava de cuidados e que se tivesse um filho biológico com problemas de saúde não o abandonaria. “Claro que eu tive medo, mas foi muito pequeno diante da vontade que eu tinha de ser mãe deles”, afirma.

Depois da adoção, ela passou muito tempo em hospitais e consultórios. Foram diversos tratamentos e várias internações por causa da baixa imunidade de Fabiano. Ele foi se reabilitando, mas o processo foi lento. Aos 5 anos tinha apenas 9 quilos. “Mas não dá pra comparar com o início [na primeira visita]. Ele realmente precisava de uma família”, acredita. Cada melhora no desenvolvimento do menino era uma vitória. Hoje Fabiano tem uma defasagem muito pequena em relação ao irmão gêmeo. “Queria que as pessoas soubessem que não é tão difícil assim”, prega.

Há algum tempo Ana Maria descobriu que os meninos ti­­nham três irmãs – o processo de destituição do poder familiar saiu alguns anos depois da adoção dos gêmeos – e ficou inconsolável quando soube que elas haviam sido adotadas por uma família estrangeira. Ela queria reunir todos os irmãos. A mulher que fazia tratamento para fazer fertilização artificial enquanto esperava na fila para a adoção, de repente, de nenhum poderia saltar para a situação de mãe de cinco filhos. Não foi possível, mas Ana Maria não desistiu de dar uma irmãzinha para os gêmeos. Agora está em gestação a ideia de adotar uma menininha. Quem sabe, duas.

* nomes fictícios

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ATITUDES PARA DIMINUIR PRECONCEITOS

Em Ponta Grossa, para iniciar o processo de encaminhamento do pedido de adoção, os interessados precisam antes participar de três reuniões do Grupo de Apoio às Adoções Necessárias (Gaan). Não é uma mera formalidade. A intenção é deixar bem claro que a prioridade deve ser para as necessidades das crianças e tentar tirar dos pretendentes os preconceitos que podem estar presentes. Rosane Gonçalves, presidente do Gaan, fala com propriedade. Ela mesma é filha e também mãe adotiva. No grupo, os voluntários explicam aos candidatos a importância de adotar grupos de irmãos, por exemplo. “A Justiça não separa as crianças, principalmente nos casos em que houve convivência. E normalmente, eles cuidam uns dos outros”, relata Rosane. Ela argumenta que muitas das crianças já são vítimas de abandono e maus-tratos e que a separação dos irmãos seria mais um trauma psicológico.


O psicólogo Maurício Wisniewski também busca a aproximação entre interessados em adoção e crianças com necessidades especiais e/ou grupos de irmãos. Ele tem a própria história para contar. Irmão gêmeo de uma menininha, foi separado dela com pouco tempo de vida e nunca mais voltou a encontrá-la. Três anos e meio mais tarde, mais um “filho de coração” chegou na casa. “Eu que achei ele na cozinha. Falei pra minha mãe que o Papai Noel tinha trazido um irmãozinho pra mim”, conta ele.

O psicólogo reconhece que é mais difícil convencer os pretendentes a assumir desafios, mas não esmorece. “De cada cem casais, não passam de 5 os que aceitam adotar crianças fora dos padrões esperados. Mas já presenciei casos de pais que vão até o fórum ou no abrigo e na hora que veem a criança se sentem identificados e não interessa se há defi­­ciên­­cia”, relata.

Para Wisniewski, problemas de saúde não podem ser encarados como impeditivos. “Às vezes se trata de uma criança que requer mais cuidado, mas é uma criança mais carinhosa, capaz de um amor incondicional”, diz. Ele ainda usa como argumento que a fila para o perfil clássico de adoção costuma demorar muito mais. E para as crianças a espera tem um caráter muito mais desumano. Elas ficam muito mais tempo nos abrigos.

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E aí??? Vamos fazer a nossa parte???????

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